quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Salomé, la femme fatale


Gustave Moreau, Salomé.

Fonte:

TRAÇOS DECADENTISTAS EM OLAVO BILAC E EMILIANO PERNETA
Fernando Monteiro de Barros (UERJ)
fermonbar@uol.com.br
Armando Rabelo Soares Neto (UERJ)
Ingrid Moura Carlos (UERJ)

"Aliás, quando se fala em Decadentismo, estilo artísticoliterário
surgido na França do final do século XIX, a imagem feminina
que emerge é única: Salomé. Esta personagem profana, eleita a
femme-fatale por excelência da estética de Huysmans e de Oscar
Wilde, traz em seu próprio mito uma rubrica sádica, bem ao gosto da
concepção perversa de amor dos decadentes. Ao dançar para Herodes,
a princesa conquista a possibilidade da realização de qualquer
um de seus desejos, mas, influenciada por sua mãe, pede somente a
cabeça de João Batista. Sedutora e cruel, Salomé encarnaria o modelo
da mulher decadente, conforme ratificado por Latuf Mucci (1994,
p. 71): “o tema de Salomé identifica-se com a concepção decadentista
do amor, que une desejo e morte, volúpia e fatalidade, mulher e
abismo”."


No odor perverso dos incensos, na atmosfera superaquecida dessa
igreja, Salomé, o braço direito estendido num gesto de comando, o esquerdo
dobrado segurando um grande lótus à altura do rosto, avança lentamente
nas pontas dos pés, aos acordes de uma guitarra cujas cordas são
feridas por uma mulher agachada (As avessas, Huysmans, 1987, p. 84).

Ela não era mais apenas a bailarina que arranca, com uma corrupta
torsão de seus rins, o grito de desejo e de lascívia de um velho; que estanca
a energia, anula a vontade de um rei por meio de ondulações de
seios, sacudidelas de ventre, estremecimentos de coxas; tornava-se, de
alguma maneira, a deidade simbólica da indestrutível Luxúria, a deusa da
imortal Histeria, a Beleza maldita, entre todas eleita pela catalepsia, que
lhe inteiriça as carnes e lhe enrija os músculos; a Besta monstruosa, indiferente,
irresponsável, insensível, a envenenar, como a Helena antiga, tudo
quanto dela se aproxima, tudo quanto a vê, tudo quanto ela toca.
(Huysmans, 1987, p. 86)

Teophile Gautier, “Uma noite de Cleópatra” (1838).
"Sobre esse estranho travesseiro repousava uma cabeça bastante encantadora,
da qual um olhar pusera a perder a metade do mundo, uma
cabeça adorada e divina, a mulher mais completa que já existiu, a mais
mulher e a mais rainha, um tipo admirável ao qual os poetas nada puderam
acrescentar, e que os pensadores continuam a encontrar no final de
seus sonhos: não é necessário nomear Cleópatra. (Gautier, 2006, p. 40)"

"Sou boa, entrego-me à tua loucura; teria o direito de mandar matarte
agora mesmo; mas disseste que me amas, mandarei matar-te amanhã;
tua vida por uma noite. Sou generosa, compro-te a vida, poderia tomá-la.
Mas o que fazes a meus pés? Levanta, e me dá tua mão para voltar ao palácio.
(Gautier, 2006, p. 59)"

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