quinta-feira, 8 de outubro de 2009

O dilema de Debret

Sobre Debret, ver o artigo
BETA, Janaína Laport. “Debret: um olhar estrangeiro”. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume II, n. 4, outubro de 2007. Texto publicado no site: http://www.dezenovevinte.net/
Abaixo um excerto:

"Não há espaço para o neoclassicismo em sua grandiosidade cívica neste mundo tupiniquim que o artista entrevê. Quase podemos imaginar o viajor francês derramando seu olhar estrangeiro sobre o porto, no afã de decodificar a irrealidade caótica que presencia - a qual sabia ter de enfrentar na qualidade de pintor de história. A viagem do artista se revelaria posteriormente, em algumas de suas aquarelas, como as viagens de Gulliver - especialmente nas que retrata famílias brancas de figuras gigantescas a alimentarem negrinhos liliputianos.
O impacto desta visualidade tão desconexa de seu acervo imagético, viria desenvolver, potencializado por seu olhar estrangeiro, uma certa qualidade de esquizo, que o possibilitaria ser a um mesmo tempo pintor da corte e desenhista de trivialidades cotidianas, que compõem - senão o maior - um dos mais importantes registros pictóricos que retratam a formação de nossa sociedade. (...) Logo na chegada Debret percebe a inaplicabilidade de seus ideais neoclássicos, visto - como já dito - a monarquia instaurada e a escravidão. Instala-se o conflito entre sua formação e a realidade brasileira. Não obstante, como pintor deixa-se levar pela atmosfera favorável, pelo fausto da corte, enaltecendo-a nos acontecimentos registrados pictoricamente, nos personagens retratados. Atento a descrição detalhada dos cerimoniais, o artista vai conferindo à obra um caráter cívico, que nos diz de sua preocupação com a necessidade da criação de um imaginário polítco. Felizmente para a arte, não se limitou a representar somente a corte, mas também o cotidiano, a rua, seus personagens. Como desenhista revelou-se muito mais inspirado, vendo a vida, ainda que a corriqueira, de um modo leve, distante do pedantismo monárquico dos ambientes oficiais".

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