quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Preconceito e etnocentrismo no olhar dos viajantes

Não sejamos ingênuos: estes homens admiráveis cultivavam uma visão extremamente preconceituosa e negativa a respeito das populações que aqui encontraram. Não lhes interessava apenas a natureza, mas também a natureza da sociedade e a direção para a qual ela estava se encaminhando. O que havia era a crença excessiva na idéia do progresso e no possível aperfeiçoamento humano proporcionado por ele. Acreditava-se então que a humanidade tinha uma origem comum e bíblica, apesar da grande diversidade das raças, como a mongólica, caucásica, malaia, americana, etiópica. Dentre todas estas, estava a superioridade do caucásico, isto é, do europeu branco. Competia à Europa dar ao resto do mundo um exemplo, um modelo de civilização, tido como o único verdadeiro e válido, que resultava da evolução natural dos povos caucásicos. Era portanto na Europa que a civilização havia alcançado o seu zênite. O racismo indisfarçável da Ilustração se expressava, por exemplo, na crença de que são de raça inferior os que não conheceram a civilização. Um exemplo disso é a posição de Spix e Martius diante dos índios, a quem acusava de faltar sensibilidade afetiva, conceito de individualidade, aprisionando-os no mundo dos instintos. A representação do índio em Spix e Martius ressalta o aspecto selvagem, com figuras desproporcionais, animalescas, sem individuação, evidenciando o colapso do mito do bom selvagem. Para eles, a raça americana não pode ser aperfeiçoar e atingir a humanidade superior. Ela tende a desaparecer, e por isso não deve ser integrada à civilização. Os índios também não conhecem a idéia de progresso, de modo que jamais vão sair do estágio em que se encontram.
O que nós temos nestes viajantes é a força do conceito de civilização, revelado pelo orgulho de suas nações, responsáveis pela difusão do progresso no Ocidente. Para eles, civilização significa a transplantação do universo europeu nos trópicos. Para Spix e Martius, cabe cabe à humanidade transformar a superfície da terra, expulsando os seres mais fracos. O avanço da civilização é necessário e irresistível. Ademais, o gesto fundador da civilização consiste no domínio dos homens sobre a natureza, daí a importância do desenvolvimento técnico e econômico, que levariam naturalmente ao progresso.
Todos estes conceitos deitavam raízes no Ideário iluminista: desenvolvimento e aperfeiçoamento do homem; fortalecimento das virtudes e da força moral; busca do bem-estar e da felicidade.

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