terça-feira, 1 de setembro de 2009

Os cinco pares formais da história da arte, segundo Wolfflin

HEINRICH WOLFFLIN, Conceitos fundamentais da história da arte.


CLASSICO
a.) Linear. Valorizacao da linha e do contorno. Olhar percorre a linha e o contorno. Linha e um limite firme. Forma e inabalavel. Linhas regulares, claras e delimitadoras. Representam as coisas como sao. Da a vontade de tocar com os dedos - e tatil. Forca tudo a nitidez do objeto: pressupoe um olhar que de conta de todo o quadro, num unico relance. Concepcao visual unificada. Arte do ser. Objeto em si mesmo. Supremacia da linha sobre a luz e a sombra. O material da forma (nu, por exemplo) nao fica explicitado. Representacao da essencia da realidade. Desvalorizacao da textura do tecido (p.e., nas pregas). Neutralidade na representaccao da materia. Exemplo: Ultima Ceia de Leonardo da Vinci, Escola de Atenas de Rafael. Escultura: David de Michelangelo e Davi de Bernini.

b.) Plano. sucessão de planos distintos e bem ordenados. Busca de combinação das formas no plano. Visão do observador se defronta com uma configuração sólida no primeiro plano, atraindo o olhar para o plano. Na arquitetura, o plano significa a estratificação por planos distintos, sendo que toda a impressão de profundidade é uma decorrência disso.

c.) Forma fechada. A obra é um organismo fechado e autônomo. Nada pode ser alterado, sob pena de comprometer toda a obra. Nete caso, existe a predominância dos eixos verticais e horizontais. A obra apresenta a imagem como uma realidade limitada em si mesma, que, em todos os pontos, se volta para si mesma. Tendência à simetria perfeita. Exemplo na pintura: Escola de Atenas de Rafael. Na escultura, tem-se a integração perfeita entre estátua e arquitetura. Na arquitetura, tem-se a valorização dos ângulos retos, o respeito às leis e normas, de que decorre a sensação de serenidade. Ênfase nos elementos geométricos.

d.) Pluralidade (ou multiplicidade). A obra é concebida como uma unidade, como uma composição subordinada a determinadas regras. Vida autonoma dos elementos/ cada elemento é tratado individualmente/ num todo perfeitamente estruturado. O clássico constitui um sistema articulado de formas. Aqui nenhum detalhe predomina na obra. Na arquitetura, para os clássicos, uma janela continua a ser uma parte claramente isolada, embora não possa ser percebida como tal pelos sentidos, ou seja, é impossível vê-la sem perceber a sua relação com a forma maior do espaço em que se acha inserida, ou seja, a superfície geral da parede. Existência de sucessão de formas horizontais e verticais.

e.) Clareza. Para a arte clássica, não existe beleza se a forma não se manifesta em sua totalidade. Todos os meios de representação estão a serviço da nitidez formal. Na arquitetura, a forma se expressa com clareza insuperável, revelando seus elementos sustentadores e sustentados, exibindo suas paredes e articulações. Buscar a clareza significa, para os clássicos, buscar a representação de formas estáveis e perenes. Arquitetura clássica baseia-se na idéia de que a beleza reside nas proporções geométricas, e estas devem ser vistas com clareza.


BARROCO
a.)Pictórico. Desvalorização da linha. O olho não vê em linhas, mas em massa. Objetos são manchas. Todos os pontos do contorno são animados por um movimento constante. Forma 'e indeterminada: contorno fugidio. Forma pictórica e resultado do jogo de luz e sombra. A forma pictórica nunca coincide com o real. Representação das coisas como elas aparecem - e não como elas são. Oferecem a impressão ótica do objeto. Quadro não e tátil, mas visual. Triunfo da aparência sobre a realidade. Reproduz apenas o que o olhar apreende quando vê em conjunto. Arte do parecer. Objeto em seu contexto. Supremacia da luz e sombra sobre a linha. Textura da forma fica clara (nu, p.e.). Representação do vir-a-ser transitório. Valorização da textura do tecido. Interesse pela qualidade das superfície. Na escultura, o observador é obrigado a dar a volta na obra, pois sempre terá a impressão de que falta algo que é preciso descobrir. A escultura avança em direção ao observador. Exemplo de escultura barroca: Beata Lodovica Albertoni.


b.) Profundidade. Composição voltada para os efeitos de profundidade. Profundidade desordenada e caótica. Valorização das relações entre os elementos da frente e do fundo da tela. O olhar do observador é atraído para o fundo da tela. O espaço da tela sugere um movimento homogêneo em direção ao fundo. o barroco evita qualquer impressão planimétrica: ela busca a essência do efeito, o cerne da imagem, na intensidade da perspectiva em profundidade. O barroco não pretende que o corpo do edifício se imobilize num ponto de observação determinado. Truncando os ângulos, ele consegue obter planos oblíquos, que orientam o olhar. Esteja o observador frente à fachada frontal ou frente à lateral, ele sempre perceberá a presença de partes em escorço na imagem.


c.) Forma aberta: O estilo aberto significa que a imagem extrapola a si mesmo em todos os sentidos e pretende parecer ilimitado, ainda que subsista uma limitação velada. Tem-se o predomínio das diagonais, que extravazam para fora da tela (tela é um fragmento). Tendência à negação da simetria: o barroco enfatiza apenas um lado, e cria relações de equilíbrio oscilante, a fim de evitar a ausência total de equilíbrio. O barroco se compraz em deixar que uma direção prevaleça, e por a cor e a luz se distribuírem de forma desigual, cria-se uma relação tensa. Na escultura, nota-se que a estátua tende a se libertar do nicho e do pedestal, recusando-se a vinculação com a parede. Estátua tende a se libertar do plano. Na arquitetura, rompe com a forma fechada, subvertendo as regras do clássico e contrariando o efeito de serenidade. A arquitetura barroca almeja a impressão de tensão e movimento. Arquitetura rompe com as regras e valoriza a liberdade, buscando o efeito plástico e orgânico. É como se a matéria se tornasse mais macia e flexível.

d.) Unidade. O artista barroco se atém a um motivo principal, ao qual subordina tudo. Disso resulta que nenhum elemento sobrevive sozinho/ nada pode ser destacado e ser visto per si. O efeito produzido pela imagem já não depende da maneira pela qual os elementos isolados se condicionam e equilibram reciprocamente; pelo contrário, do todo transformado em um fluxo único emergem formas isoladas de caráter absolutamente dominante, cujo sentido fica comprometido se deslocadas do todo. Barroco oferece um fluxo infinito. Dissolução do caráter autônomo das formas isoladas e a formação de um motivo geral dominante. Na arquitetura barroca, a parte, enquanto valor independente, é absorvida totalmente pelo todo. Já não se trata da fusão de formas belas num todo harmônico, onde as partes continuam a ter vida própria; e sim da submissão das partes a um motivo geral predominante, de sorte que elas somente ganham sentido e significado na medida em que participam do efeito global. Existência de grandes composições unitárias, em profundidade, nas quais as partes renunciam em favor de um novo efeito global.

e.) Obscuridade. Busca da obscuridade: a imagem não coincide com o grau máximo de nitidez objetiva, mas, pelo contrário, evita-o. Obscurecimento visa à intensificação do prazer, para dificultar a percepção visual. A pintura barroca considera a antiga forma de ver (clássica) e apresentar as formas como algo antinatural e impossível de ser imitado. O barroco evita a sensação de que o quadro tenha sido composto para ser visto e de que possa ser totalmente apreendido pela visão. Beleza está na obscuridade. Para o artista barroco, as coisas na natureza não têm a mesma nitidez e claridade que se encontra na pintura clássica. Para o artista, a arte expressa aquilo que os olhos captam, isto é, a aparência e não a essência das coisas. O barroco busca o inacabado: a forma deve ser algo mutável, que está se transformando continuamente. Barroco evita a frontalidade clássica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário