quarta-feira, 24 de junho de 2009

Portinari

Segundo Amaral (1987: 18), “a
preocupação social emerge de forma
mais clara e definida nos meios
intelectuais e artísticos da América
Latina, a partir da década de 20. Somada
à intensificação dos nacionalismos de
todo o mundo, essa preocupação surge
como conseqüência direta da Revolução
Russa de 1917”. No período compreendido do
movimento moderno, os artistas se
perguntavam ainda mais sobre o
verdadeiro papel que deveria ter a arte. A
arte era cercada de preocupações acerca
do serviço que deveria desempenhar, de
sua finalidade perante a sociedade.
Representar a burguesia ou a
magnitude da natureza já não estava entre
as preocupações dos artistas. Para Benoît
(2002, p.11 e 32), “falar de engajamento
significa voltar a se interrogar sobre o
alcance intelectual, social, ou político de
uma obra, sem algo mais precioso [...], o
engajamento é um ato ou atitude do
intelectual, do artista que tomando
consciência do seu pertencimento à
sociedade e ao mundo do seu tempo,
renuncia a uma posição de simples
espectador e coloca o seu pensamento ou
a sua arte a serviço de uma causa”.
Os muralistas mexicanos foram os
precursores de tal mudança, porém, seu
engajamento estava mais relacionado a
um momento revolucionário, com caráter
épico, onde se destacam as alegorias em
torno da luta de classes; enquanto no
Brasil, além do engajamento enfocar estes
temas, estavam presentes também a
valorização do trabalho e da miséria.
Foram os muralistas mexicanos quem
primeiro deixaram de representar a alta
classe para dar lugar ao homem comum.
Porém, de acordo com Zílio (1982, p.94),
“apesar da influência que os mexicanos
exerceram sobre os brasileiros na década
de 30, não se pode afirmar que ao nível
iconográfico tenha havido uma grande
repercussão dos objetivos propostos por
eles, ma sim uma coincidência de
propósitos, pois desde 1923, a arte
brasileira havia se voltado para uma
temática baseada em elementos de
caracterização nacional”.
Portinari pode, com seus
trabalhos, certamente ser considerado
hoje não só como o artista que mostrou o
pobre, o desamparado e o trabalhador
braçal, mas como o homem que elevou a
imagem do Brasil – e da arte brasileira –
ao mundo e o fez conhecido. Além de
expor a vida simples do interior, os
retirantes famélicos e as festas populares;
em seus trabalhos encontram-se também
temas de santos consagrados pela
população. Porém, a predominância é
pela imagem do trabalhador.
Segundo Fabris (1977), “a
partir de ‘Café’ (Fig. I), o humano,
compreendido em termos sociais e
históricos, torna-se a tônica do trabalho
de Portinari, voltada para a captação da
realidade natural e psicológica, para
uma expressividade, ora serena e grave,
ora desesperada e excessiva”.
Portanto, ele não foi apenas o
representante do povo brasileiro, foi o
representante de um mundo de idéias,
capaz de fazer voltar o pensamento à
verdadeira situação do país.

Fonte: http://www.propp.ufu.br/revistaeletronica/edicao2005/humanas2005/o_engajamento.PDF

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