terça-feira, 23 de junho de 2009

Cezanne

Após uma fase inicial dedicada aos temas dramáticos e grandiloquentes próprios da escola romântica, Paul Cézanne criou um estilo próprio, influenciado por Delacroix. Introduziu nas suas obras distorções formais e alterações de perspectiva em benefício da composição ou para ressaltar o volume e peso dos objetos. Concebeu a cor de um modo sem precedentes, definindo diferentes volumes que foram essenciais para suas composições únicas.

Cézanne não se subordinava às leis da perspectiva. A sua concepção da composição era arquitectônica; segundo as suas próprias palavras, o seu estilo consistia em ver a natureza segundo as suas formas fundamentais: a esfera, o cilindro e o cone. Cézanne preocupava-se mais com a captação destas formas do que com a representação do ambiente atmosférico. Não é difícil ver nesta atitude uma reação de carácter intelectual contra o gozo puramente colorido do impressionismo.

Sobre ele, Renoir escreveu, rebatendo o crítico de arte Castagnary: Eu me enfureço ao pensar que ele [Castagnary] não entendeu que Uma Moderna Olympia, de Cézanne, era uma obra prima clássica, mais próxima de Giorgione que de Claude Monet, e que diante dele estava um pintor já fora do Impressionismo.[1]

Fonte: Wikipedia

Cézanne deixou de aceitar como axiomáticos quaisquer dos métodos tradicionais de pintura. Parte da estaca zero, como se nada houvesse antes dele.
- Arte de Cézanne tem por objetivo resolver problemas artísticos.
- Objetivo de Cézanne: obra vista como um todo perfeito, de harmonia e serenidade, a maneira de Poussin (Et in Arcadia ego).
- Mesmo nas obras do período em que esteve junto aos impressionistas, em 1872, é o aspecto solitário das pesquisas de Cézanne que salta aos olhos, a sua singularidade e a dificuldade de aquietar-se com os ideais artísticos de um grupo. O Impressionismo tomava a natureza pelo seu aspecto passageiro e traduzia-a em termos óticos, efeitos de luz e cor. Essa concepção efêmera da natureza não condizia com o pensamento de Cézanne. Por volta de 1878 ele afastou-se dos impressionistas para buscar a permanência da natureza através de sua estrutura construtiva. Começou a desenvolver seu próprio estilo, atento ao aspecto bidimensional da pintura. Cézanne não cria a ilusão do espaço, mas o constrói com objetos, na solidez de suas formas e volumes simplificados em sua essência geométrica. Afirmava que "tudo na natureza se modela como a esfera, o cone e o cilindro", tornando volume e espaço um só corpo estrutural. A cor modela a forma, como podemos observar em Natureza morta com maçãs e laranjas, e a pincelada constrói a cor, como podemos ver em Pirâmide de crânios.
Sua pintura, que costuma ser enquadrado entre os pós-impressionistas, abriu novos caminhos para a arte do século XX, e trouxe uma nova concepção de percepção da realidade. Em obras como A montanha de Saint Victoire, o artista prenuncia as pesquisas do Cubismo.
- Impressionismo + realização de um sólida simplicidade + perfeito equilíbrio.
- Conquista dos impressionistas + sentido de ordem e necessidade dos clássicos.
- Cézanne detestava a confusão da arte impressionista.
- Cézanne queria transmitir os tons ricos e uniformes da natureza meridional.
- quis fazer do impressionismo algo sólido e duradouro
- interesse pela permanente estrutura subjacente à natureza.
- Insatisfação de Cézanne diante dos impressionistas interessados apenas em captar os efeitos cambiantes da luz e da cor na natureza.
- Busca por composições harmoniosas e bem-ordenadas, reproduzindo as relações formais e tonais da natureza.
- Interesse: exprimir o volume e o espaço unicamente por intermédio da cor.
- Obras de Cézanne; é firme e sólida, apresenta um grande padrão lúcido, sensação de ordem e repouso, sensação de profundidade e distância.
- Interesse: transmitir a sensação de solidez e profundidade, mesmo que sacrificasse o desenho correto.
- Via a natureza do ponto de vista plástico: tudo se resumia a formas e cores.
- Sua arte procurava comunicar através da cor a sensação da forma e a estrutura compacta da fruta, vista em toda sua totalidade. É como se pudéssemos dar a volta ao redor da maçã.
- Para o impressionista, a maçã não devia pesar, porque era uma bolha de luz. Para Cézanne, ela devia pesar, e a sensação de peso deveria ser transmitida pela cor.
- Crítica de Cézanne ao impressionismo: pulverização da forma.
- Arte de Cézanne: sintetiza ao máximo a forma, reduzindo-a a seus elementos geométricos básicos. Simplificação: sensação da estrutura do objeto e a totalidade de sua forma.
- Ponto de partida de Cézanne não é a sensação visual imediata, mas o conceito que vem da inteligência. Pintura de Cézanne traduz conceitos sobre as formas.
- Ao libertar a interpretação da forma, Cézanne abriu caminho para a autonomia da pintura, como fariam os cubistas. A pintura não deve imitar a realidade, mas criar formas mais ou menos autônomas. Abre caminho também ao abstracionismo, quando os pintores passam a criar formas inteiramente independentes das sensações ou imagens visuais.
- Cézanne: a simplificação da forma implicava também uma organização delas em conjuntos plenos de ritmos e de valores plásticos.
- Objetivo de Cézanne: ao sugerir a estrutura total e permanente das formas ele tornava o Impressionismo uma coisa séria e clássica, digna de estar no museu.
- Estrutura total e permanente das formas: Cézanne tenta alcançar isto pela cor e não pelo desenho. Cézanne era um colorista. Transmite a sensação da forma com a cor.
- Cézanne obtinha a plenitude da forma obtendo a plenitude da cor. .
- Abandona a perspectiva: em algumas naturezas-mortas chega mesmo a oferecer mais de um ângulo de visão.


Exemplo: Natureza-morta com fruteira, copo e maçã
- cada fruta é vista separadamente, e de um ponto de vista diferente.
- Busca das formas geométricas subjacentes à natureza (cones e esferas)
- Leitura de Gombrich: p. 431.
- Estudo da cor e da modelação: um sólido redondo, brilhante e colorido como uma maça é um bom motivo para estudar esta questão.

Análise da Obra:
Natureza-morta com maçãs e laranjas
Para criar suas naturezas-mortas, Cézanne estudava atentamente a disposição dos objetos que iria pintar. Apesar desse cuidado, a ordenação dos elementos resulta despretensiosa, como neste quadro Natureza-morta com maçãs e laranjas. O artista não pretendeu realizar uma representação naturalista, mas propositadamente expressou-se pelo artificialismo da própria pintura. Cézanne não utilizou o mesmo ponto de vista para construir a perspectiva e preencher o espaço da tela, como ocorre na perspectiva científica. Antes trabalha em diferentes pontos de vista, produzindo vários planos, e permitindo uma angulação de visão diversificada dos objetos. Esse conceito de ponto de vista múltiplo atingirá sua plenitude no Cubismo. Mas, já aqui, a distorção resultante reforça o entendimento de que existe uma grande distância entre realidade e visão, entre o objeto e a imagem criada a partir dele, questão já levantada pelo Impressionismo.

Nesse quadro, as maçãs e laranjas são simplificadas em formas esféricas, definidas pela cor. Basicamente o amarelo e o vermelho modelam a fruta, tornando forma e cor uma única coisa. Assim, em vez da maçã ser uma forma colorida, a cor é usada para formar a imagem da fruta. Uma famosa frase do artista sintetiza seu pensamento sobre a cor: “Quand la couleur est à sa richesse la forme este à sa plenitude”, ou seja, “quando a cor atinge sua riqueza, a forma atinge sua plenitude”. Cézanne incorpora a luz na cor, uma abordagem da iluminação nova na época de Cézanne. Para ele, o volume das formas não depende mais do claro-escuro tradicional. São as cores as responsáveis pela sensação de avanço e recuo das superfícies, como vemos nas frutas desta imagem. Os tecidos, toalhas e cortinas dão um vigor especial ao conjunto, suas dobras criam uma sucessão de planos que se articulam uns com os outros e dão solidez à composição.

Cézanne resgatou o gênero de pintura de natureza-morta, que havia sido abandonado no século XIX. Diferente das obras do início deste gênero, durante o período barroco, que, juntamente com as chamadas pinturas de gênero, visavam abordar o cotidiano da classe média em ascensão, Paul Cézanne encontrava na natureza-morta ótimas condições para desenvolver seu trabalho, na medida em que tinha maior liberdade de interação com o seu modelo. Diz-se que, muitas vezes, o tempo que o artista levava para realizar uma destas obras era tão prolongado que as frutas chegavam a apodrecer. Além disso, por seu aspecto trivial, tais temas eram bastante compatíveis com as pesquisas objetivas de Cézanne, a busca de reter a essência formal de cada personagem de sua obra sem envolvimentos de outras ordens. Através desses seres inanimados, o artista alcançou a existência duradoura que tanto almejava.

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