quarta-feira, 27 de maio de 2009

Conceito de Pintura Histórica

FONTE
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=327&lst_palavras=&cd_idioma=28555&cd_item=8

Pintura Histórica

Definição

O termo se aplica à pintura que representa fatos históricos, cenas mitológicas, literárias e da história religiosa. Em acepção mais estrita, refere-se ao registro pictórico de eventos da história política. Batalhas, cenas de guerra, personagens célebres, fatos e feitos de homens notáveis são descritos em telas de grandes dimensões. Realizadas, em geral, sob encomenda, as pinturas históricas evidenciam um tipo de produção plástica comprometida com a tematização da nação e da política. Se os acontecimentos domésticos, o cotidiano e os personagens anônimos são registrados pela pintura de gênero, os grandes atos e seus heróis são narrados em tom elevado e estilo grandioso pela pintura histórica. O desafio pictórico colocado por essas telas reside na experimentação simultânea de diferentes gêneros artísticos: das paisagens e naturezas-mortas (nos panos de fundo e elementos do cenário); dos retratos e cenas de gênero (ensaiados na caracterização dos personagens e ambiências). A realização de telas com grande número de elementos, por sua vez, incita os pintores a procurarem soluções inéditas em termos de composição.

A pintura histórica adquire prestígio nas academias de arte, alçada ao primeiro plano na hierarquia acadêmica a partir do século XVII, com a criação da Real Academia de Pintura e Escultura em Paris, 1648. Verifica-se aí um estreitamento das relações entre arte e poder político, e uma associação mais nítida entre a instituição e uma doutrina particular. A paixão pela Antigüidade - revelada nos temas mitológicos e nos motivos históricos - associada à clareza expressiva e à obediência às regras definem o estilo que se converterá no eixo da doutrina acadêmica. A pintura neoclassica, que tem como centro a França do século XVIII, explora fartamente os temas históricos. Diante da Revolução Francesa, o modelo clássico adquire sentido ético e moral. A busca de um ideal estético da Antigüidade vem acompanhada de ideais de justiça e civismo, como mostram as telas do pintor Jacques-Louis David (1748 - 1825). Os retratos dos mártires da revolução realizados por ele atestam a face engajada de sua pintura (A Morte de Lepetier, A Morte de Marat e A Morte de Bara, 1793). David é também o pintor oficial de Napoleão, como mostra a série sobre o imperador realizada entre 1802 e 1807, na qual se destaca a gigantesca Coroação de Napoleão (1805-1807). Antoine-Jean Gros (1771 - 1835), seguidor da forma austera de David, inclina-se às cores e vibrações dramáticas nas batalhas napoleônicas que executa - por exemplo, A Batalha de Eylau (1808) -, o que faz dele um elemento central no desenvolvimento do romantismo francês.

Na Espanha, pinturas históricas são realizadas a partir do século XVI por diversos artistas. Cenas de batalhas são executadas pelos pintores da corte de Felipe IV, comprometidos com a representação da invencibilidade do exército espanhol em suas campanhas militares. Nesse contexto, Francisco de Zurbarán (1598 - 1664) realiza A Defesa de Cádiz e Diego Velázquez (1599 - 1660), A Rendição de Breda (1634-1635), ambas glorificando os triunfos do reinado de Felipe. Posteriormente, cenas históricas têm lugar no interior da variada produção de Francisco José de Goya y Lucientes (1746 - 1828), por meio das dramáticas telas sobre a ocupação francesa da Espanha (1808-1814), em que o pintor coloca a sua ênfase na revolta dos cidadãos de Madri contra os ocupantes (Fuzilamento, 1808). Com esses trabalhos de Goya, a dimensão heróica e celebrativa da pintura histórica encontra sua primeira contestação. Mas é na série de 65 água-fortes, Os Desastres da Guerra (1810-1814), que o pintor revela sua visão realista dos acontecimentos: as cenas de pesadelos e as figuras macabras falam das atrocidades da guerra, pelas quais são responsáveis franceses e espanhóis. A própria opção por uma "técnica menor", a gravura - procedimento que Goya dignifica -, revela o quanto a pintura histórica poderia estar comprometida com a apologia do poder.

A preocupação com o passado e com as origens, assim como a interferência no tempo presente, marcam a visão de mundo romântica. O impacto da Revolução Francesa e o mito napoleônico se refletem nos temas históricos e nas cenas de batalhas, explorados pelos pintores. Théodore Géricault (1791 - 1824) retoma a história em telas como A Jangada da Medusa (1819). O quadro trata de um acontecimento contemporâneo (um naufrágio ocorrido em 1817), narrando, em tom épico, o embate entre vida e morte, assim como as relações hostis entre o homem e a natureza. Eugène Delacroix (1798 - 1863) se detém sobre a história política desde o início de sua carreira (O Massacre de Quios, 1824, A Grécia Sobre as Ruínas de Missolongi, 1827). Mas é o célebre A Liberdade Guia o Povo (1850) que evidencia o compromisso do pintor com a história de seu tempo; a tela registra a insurreição de 1830 contra o poder monárquico. A liberdade, representada pela figura feminina que ergue a bandeira da França sobre as barricadas, converte-se em alegoria da independência nacional.

Marcas neoclássicas e românticas se fazem sentir na pintura histórica exercitada pelos pintores acadêmicos brasileiros. A produção inscrita no interior da Academia Imperial de Belas Artes - Aiba possui fortes vínculos com o governo imperial de Dom Pedro II (1825 - 1891), para o qual os artistas criam uma iconografia nacional - A Coroação de D. Pedro II, de Porto Alegre (1806 - 1879). Os nomes de Pedro Américo (1843 - 1905) e Victor Meirelles (1832 - 1903) associam-se diretamente à pintura histórica no país. Pedro Américo tem no desenho, e na preocupação com a execução das figuras, um dos traços característicos de sua pintura. A Guerra do Paraguai serve de modelo para as narrativas épicas de suas telas, por exemplo, aquelas realizadas em 1871: Batalha do Campo Grande, Batalha do Avaí e Passagem do Chaco. Nota-se aí uma atenção aos detalhes, minuciosamente descritos: os trajes militares, os cavalos, a fisionomia dos personagens. O uso de fotografias como apoio para realização de suas telas históricas revela a preocupação de Pedro Américo em diminuir a distância entre uma arte celebrativa e a documentação histórica. Victor Meirelles também se deteve no registro da história nacional, na representação do império e na guerra do Paraguai. Do ponto de vista da composição, observam-se afinidades de sua pintura com o espírito romântico. Dentre suas principais obras estão: A Primeira Missa no Brasil (1860), A Batalha dos Guararapes (1879), Passagem do Humaitá e Combate Naval do Riachuelo (ambas de 1882). A expressividade da cor e a atenção às paisagens estão entre as marcas do pintor. O tom grandioso e o ímpeto da ação aparecem como elementos fortes de suas narrativas visuais, que, longe de assinalarem a crueldade da guerra, visam enobrecê-la.

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