quarta-feira, 27 de maio de 2009

O herói sem heroísmo




A Execução de Maximiliano, de Manet, é o exemplo de uma obra que contesta os princípios da grande pintura histórica, acusada de ser um gênero constituído por convenções ocas.
Aqui, o episódio, dramático e recente, está despido de qualquer celebração, de qualquer sentimento. É uma narrativa fria, asséptica, sem grandeza ou pequenez. Um fato da vida tão simplesmente, desprovida de significação. Segundo Jorge Coli, "uma maçã é quase uma esfera, quase forma pura, indiferente, silenciosa; mas um fuzilamento pressupõe dramas e heróis. Eliminar dele o pathos em benefício de uma neutralidade visual não é apenas rejeitar a narração, é excluir da História seu sentido episódico: o acontecimento excepcional deixou de sê-lo, para nivelar-se ao corriqueiro.

A crítica à pintura heróica no século XIX viria também daqueles para quem a vida burguesa já não permitia mais o heroísmo. O herói torna-se assim um simulacro.
Segundo Coli, "quadros de batalha foram sempre ficção construtora da História. Mas perderam, com a modernidade, seus poderes de convicção, porque as forças dinâmicas do heroísmo esvaziaram-se em jogos guerreiros e sangrentos, que se revelavam mais e mais aberrantes. Da Cartuxa de Parma a Guerra e Paz, a literatura expôs, no século XIX, as batalhas militares como excrescência absurda. O mundo burguês não é heróico; ele pode, eventualmente, servir-se do heroísmo, mas não acredita nele".

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