terça-feira, 17 de novembro de 2009

Manet e a modernidade II








O Concerto Campestre (1505-1510), de Giogione ou Ticiano. 110 X 138 cm. Museu do Louvre, Paris, França.

O Julgamento de Páris (detalhe), 1520. Gravura de Marcantonio Raimondi

Almoço na Relva , 1863, Manet. Óleo sobre tela, 214 X 270 cm. Museu do Louvre, Paris, França.

Detalhe de um sarcófago romano, século III d.C.

ALMOÇO NA RELVA (1863), Édouard Manet
Na segunda metade do século XIX, a Europa passava por grandes transformações tanto políticas como sociais. A industrialização e o engajamento político da nascente classe operária, causaram grandes reflexos em várias áreas, e até mesmo a pintura não ficou de fora. A chamada

Pintura Realista, foi um grande veículo artístico divulgador de uma nova realidade. O mais importante naquele momento era retratar o mundo real, a vida como ela é de fato, e não mais temas mitológicos ou bíblicos. O pintor francês Édouard Manet (1832-1883), vivia esse momento.


Apesar de não desenvolver uma pintura engajada como a de Gustave Coubert (1819-1877), ícone da pintura Realista, Manet sofria grande influência do líder pintor realista.



Para pintar Almoço na Relva, em 1863, Manet inspirou-se em duas obras de antigos mestres: O Concerto Campestre (1505-1510) cuja autoria atribui-se a Giorgione (1477-1510) e outros a Ticiano ( 1490-1570), além de O Julgamento de Páris (1520) de Marcantonio Raimondi, que por sua vez a executou a partir de um original, hoje perdido, de Rafael (1483-1520). Este no entanto, como todo pintor renascentista, teria buscado inspiração na arte greco-romano, através das esculturas de um velho sarcófago romano.



Diferente do que muitos possam imaginar, Almoço na Relva não se trata de um plágio, mas sim de uma releitura, uma recriação, já que nessa obra, Manet não copia exatamente as obras originais. Na sua releitura, Manet faz a sua interpretação, cria algo novo. Em Almoço na Relva , as figuras retratadas são pessoas comuns, conhecidas do pintor. Os dois homens vestidos são Eugène Manet ( irmão do pintor ), Ferdinand Leenhoff ( escultor e amigo de Manet ). A mulher nua, curiosamente teve como referência duas mulheres: Suzanne Leenhoff ( esposa de Manet ) que serviu de referência para o corpo e Victorine Meurend ( modelo do artista) para o rosto.



Para compor as figuras retratadas na tela, Manet criou um interessante sistema de triângulos que se interrelacionam, e que passam meio que despercebidos na visão do espectador.

As três figuras sentadas formam um triangulo entre si. Um outro triângulo se sobrepõe a este, tendo a base nas três figuras e o ponto superior a mulher ao fundo saindo da água. Abrangendo a este, está outro triângulo tendo a mesma base da anterior, porém formando a terceira vértice com o pássaro que voa num ponto superior da tela.



Interessante notar que a mulher despida ganha mais destaque do que as outras figuras, não só pelo fato de estar sem roupa, mas também pela luminosidade que incide sobre ela, a partir da lateral superior esquerda da pintura.



Manet inscreveu Almoço na Relva no Salão dos Artistas Franceses, em Paris, em 1863, porém a obra foi recusada, devido a perfil conservador do salão. Mas Almoço na Relva foi exposto no Salão dos Recusados, destinado às obras recusadas no salão oficial. Manet ainda expôs nesse salão outras duas telas, Victorine Meurent em costume de Toureiro e Rapaz em costume Espanhol.



Nessa época, Manet liderar, ao lado de outros artistas franceses, um dos mais importantes movimentos das artes da segunda metade do século XIX, o Impressionismo, tendência que iria provocar um ruptura total com a pintura acadêmica e abriria caminho para a Arte Moderna do século XX.



Victorine Meurent foi modelo de uma outra importante pintura de Manet, Olympia (1863). Manet conheceu Victorine quando freqüentava o ateliê do pintor Thomas Couture entre 1849 e 1856. Existem afirmações de que Victorine foi também amante de Manet, como outras tantas que o artista teve. O escândalo maior foi o fato de que a modelo era menor de idade.

Victorine escreveu uma carta, datada de 31 de julho de 1883, três meses após a morte de Manet, destinada a Suzanne Leenhoff, viúva do pintor, pedido ajuda financeira. Na carta, a modelo afirma que Manet havia lhe prometido uma recompensa, caso os quadros para os quais posou, fossem vendidos. Contudo seu pedido nunca foi atendido e Victorine Meurent morreu esquecida e na miséria.

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